A táctica do empata



( Antes do artigo, queria enviar as minhas condolências à família pelo falecimento de Félix Mourinho, um homem do futebol respeitado por todos.
Este artigo já foi escrito há bastante tempo, e o timing da sua publicação não tem absolutamente nada a ver com o recente falecimento, e sim com a revolta que me provoca uma série de maus hábitos que se perpetuam no futebol português )


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Os treinadores portugueses são engraçados. E são também engraçadas as suas equipas. São engraçadas quando jogam cá dentro, mas são ainda muito mais engraçadas quando jogam fora de portas.

A estratégia da grande maioria pura e simplesmente não existe; uma vez que um treinador não se consegue manter no cargo mais de 6 meses, nem vale a pena falar nisso, é um termo que nunca aparece nos seus dicionários. Mas consta sempre nos contratos que os ligam aos clubes a mítica cláusula de rescisão, frequentemente milionária, que ninguém pensa seriamente reclamar nem ninguém pensa seriamente pagar, como se vê em certas novelas sul- americanas que ocorrem um pouco por toda a Europa, à vez.

Ora, a táctica é sempre a mesma, aplicável sobretudo à única modalidade que tem a classificação de desporto- rei cá no burgo: obviamente estou a referir-me ao futebol. Esta táctica é a celebérrima táctica do empata, provavelmente herdeira do também tristemente célebre catenaccio italiano.



Vou contar-vos uma história de embalar bonita, sito no já longínquo ano de 2004 e troca o passo, com um final extremamente feliz, lá para as bandas de um certo Dragão. Decorria a primeira fase do endeusamento internacional do cidadão José Mourinho. Palco? O muito mediático tapete verde dos sonhos dos red devils.

Cá, tinha ficado 2-1 a favor do FC Porto. Lá, O manchester marcou um golo, e só não marcou outro porque marcou mesmo mas o árbitro decidiu inacreditavelmente anular um golo 200 % limpo, que nem precisava das mil e uma repetições que por vezes crucificam árbitros - quando eles têm realmente razão - em menos de 10 segundos na sua própria arena.

O Madchester massacrava, o Porto quase se afogava e precisava de um milagre para seguir em frente para os tão ansiados quartos de final.

Ora, o árbitro decidiu ser criativo mais uma vez, marcando um livre à entrada da área dos red devils, um livre cuja existência levantou já na altura imensas dúvidas.

Bom, contemos as peripécias: primeiro - anular um golo absolutamente limpo; segundo - criar um livre cirúrgico quase em cima dos 90 minutos - é uma façanha difícil de igualar no reino arbitral, e Mourinho sentia já a sua estrelinha a dar sinais de vida.

Os adeptos dos devils fechavam os olhos, metiam as mãos na cabeça, e quando em ressalto de autêntico ping pong o jogador- que- melhor- veste- em- Portugal, de seu nome Costinha, fez o 1-1, alguém lá no alto deve ter perguntado a Deus:

"- Mas isto não devia estar já a 2-0 ?? Perdi alguma coisa quando fui à casa de banho e buscar uma cerveja, ou sou eu que pura e simplesmente não percebo nada de bola !??".



Bom, mas pensamentos dos anjos à parte, o resto, como se costuma dizer, é História (ou estórias..??).

Mourinho usou o bem conhecido e muito tradicional desenrascanço para manter a equipa à tona de água, e a arte e inspiração de um desastrado árbitro adicionou o élan necessário para dar a volta à coisa: um mimo.

A explosão de Big Mou, do banco em direcção ao relvado, num estilo só igualado pelo simpático e irrequieto Speedy González, e a sua posterior e muito lusa encenação e pressão para um árbitro no fundo tão dócil acabar com o pesadelo- tornado- sonho, não são coisas dignas do Special One; ah, mas é algo completamente ajustado à mentalidade tacanha, falsamente humilde, de baixo nível e ainda pior educação, que países tão diferentes e historicamente tão distanciados como por exemplo Inglaterra e Alemanha, têm vindo a assistir incrédulos e a criticar e denunciar publicamente em conferências de imprensa contundentes onde colocam realmente o dedo na ferida, conferências essas às quais aparentemente apenas a imprensa portuguesa continua a faltar. Ou então tudo isto são mitos urbanos e eu estou a alucinar devido à larica de um almoço que me é devido mas que nunca mais aparece..


Agora, vamos lá ver o seguinte:

José Mourinho é um homem extraordinariamente talentoso e trabalhador. E é muito devido ao seu carisma e ao papa- recordes Cristiano Ronaldo que Portugal existe no mapa global, hoje em dia.

Pelo menos os um- pouco- duros- de- ouvido americanos já devem por esta altura saber indicar mais ao menos no mapa onde isto fica; pelo menos entre Israel e Pólo Norte isto deve ficar com certeza para esses nossos amigos cidadãos do mundo – por favor não lhes peçam muito mais que isso !

Mas podem crer que aquele vulto com uma fatiota escura Armani ou aparentada, que sprintou em direcção ao imerecido e salvador rebuçado, ia vazio, não tinha uma alma por dentro. Porque lá dentro ia inteirinha a táctica do empata tuga. E é por muitas destas e por muitas outras que o futebol português, ele próprio, é ampla e justamente achincalhado a nível internacional.


Porquê ? Ora bem:

Jogadores que se atiram para a piscina, que pedem cartões às dúzias para os jogadores adversários ao mínimo contacto, as birrinhas quando alguém leva um amarelo, a turba em fúria que corre o árbitro à sua frente, a perda de tempo ao colocar a bola de novo em jogo após faltas, cantos, substituições, passar metade do tempo a passar a bola para o lado e para trás quando se ganha, etc etc etc.

E depois um jogador é expulso num jogo por demorar demasiado tempo a sair numa substituição, por um árbitro farto dos esquemas portugas, e a imprensa irresponsável que temos pura e simplesmente cai-lhe em cima!

Felizmente os treinadores adversários já sabem de cor as nossas manhas há muito. E os mass media dos outros países, passada esta fase da farsa da selecção de sonho começam a pôr os pés no chão e a perceber quem afinal de contas têm à frente, porque tudo isto é muito apenasmente "A causa das coisas"...



Desiludidos? Porquê? Foi sempre assim!


Baralhar e dar de novo.

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