Pasito a pasito



Informação factual, com a ajuda de O Público:

Este "biopic" sobre o célebre pintor holandês Vincent Van Gogh, é a primeira longa-metragem "completamente pintada do mundo". 

Para animar o filme, foram pintados e repintados 853 quadros a óleo, feitos por mais de 100 artistas diferentes, num período temporal que se estendeu por mais de 5 anos, a partir de 130 obras originais de Van Gogh.

A história foca-se mais na morte do que na vida do artista, com a acção a desenrolar-se um ano após a sua morte e pessoas a tentarem perceber o que é que aconteceu ao certo a Van Gogh.

O realizador é o animador britânico Hugh Welchman, responsável pela oscarizada curta "Pedro e o Lobo" em 2006, com a colaboração da sua esposa, a polaca Dorota Kobiela.

Robert Gulaczyk, actor polaco com experiência em teatro, representa o problemático Van Gogh, num elenco que inclui ainda Douglas Booth, Jerome Flynn, Saoirse Ronan e Chris O’Dowd.



Informação emotiva, ou seja, a minha opinião sobre o filme:

Confesso que a técnica de animação utilizada me parecia um pouco estranha, quase impossível de funcionar em ambiente de cinema, tela grande onde todos os passos têm de ser dados ao ritmo narrativo certo.

. Seria realmente de leitura visual fácil ? 

. Será que a infraestrutura, os andaimes, não fariam com que esta animação- filme ruísse pela base ? 

. E a ideia base, o fio condutor, eram interessantes o suficiente para sustentar um filme de tão ambiciosa homenagem ?

Resposta: Sim, sim, sim a tudo e mais alguma coisa.


Esta obra resiste a todas as análises que se possam fazer, desde a técnica à narrativa, passando pela escolha de actores e junção entre actores de carne e osso e a animação “pura”.

A “cola” de tudo isto é uma história muito linear, que me traz à lembrança “Uma história simples”, de David Lynch, uma película que parte de elementos básicos para se ir transformando em ternura imensa, que se espraia por todos os fotogramas e que emerge as personagens em poesia e emoção tão fortes que moldam o(s) seu(s) destino(s) para sempre.

É sem dúvida o paralelo mais aproximado, em cinema, deste muito especial "A paixão de Van Gogh" - título pouco inspirado no entanto, o que é típico das traduções para Portugal, infelizmente, feitas por tradutores apressados que se julgam imaginativos.

Sendo eu também um artista plástico, aprecio cada segundo, cada momento, cada tela “animada”, cada luz e sombra, cada rosto em plena comunhão com a natureza em flor, a cada passo pequenos gestos de seres humanos que compreenderam profundamente a autêntica natureza que há em Van Gogh.


O filme funciona porque é ambicioso sem ser pretensioso.

Homenageia sem ser lamechas.

As pinturas certas no sítio certo, com as pinceladas adicionais certas e o movimento correcto.

A cor, exuberante e maravilhosa, entra em cena para transfigurar a realidade, e entra quando tem de entrar; já o preto e branco faz o contraponto das fases mais sombrias dos últimos anos de vida do grande pintor holandês, com um estilo mais cinematográfico e menos de animação.


Este filme dá-nos informações baseadas em testemunhos cruciais, mas não nos inunda de factos estéreis; enquadra-os na evolução da história; as várias personagens surgem de forma natural, como água que corre em rio de montanha, seguindo calmamente o seu rumo para o mar.

Nada aqui é nem aborrecido, nem forçado ou exagerado para um espectáculo fácil e imediato, tão ao estilo de Hollywood ou Bollywood.

As pessoas respiram, falam, opinam a um ritmo algo lento, que as deixa pensar e sentir.

A pintura extremamente ligada à realidade e à alma das pessoas e dos lugares de Van Gogh também ajuda à tarefa, que foi extremamente complexa e trabalhosa, mas este é um trabalho de amor – e isso nota-se a cada fotograma, um respeito pelo trabalho artesanal sobre a imagem que é a base, afinal, de todo o cinema.


Conclusão:

Se não quiser emocionar-se, não veja este filme…


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