Mitos ritos e putos parvos



Todos temos um pouco disto nas nossas vidas:


. Tipos mal encarados que nos roubavam berlindes e piões quando éramos novitos.

. Técnicos de qualquer coisa, mal educados dos pés à cabeça.

. Doutores encartados, com o canudo mas sem a ética profissional que isso pressupõe e obriga.

. Jogadores com as faixas de campeão e também com a maldade toda no corpinho.

. Funcionários com jeito que dão jeitos.

. Escritores que repetem a mesma fórmula, até à exaustão – exaustão sua e sobretudo dos seus leitores.

. Engravatados do marketing, gestão e quejandos a tentar impingir qualquer coisa vendável.


E aqui incluo duas novas espécies:

. Tipos mal formados que trazem para o ensino superior o pior que o ser humano tem em si mesmo.

. Professores que de professor só têm mesmo o nome.


Pois bem, não vou começar com rodeios, vou encarar o touro pelos cornos:

- Não gosto de praxes.
- Aliás, detesto praxes.

De putos parvos estamos nós todos fartos – e o Inferno cheio.


Mas… o que significam as praxes ?

A praxe é, numa perspectiva meramente antropológica – ou seja, a perspectiva mais acertada, sob os pontos de vista histórico e sociológico – apenas e simplesmente um Rito de passagem, um rito social que marca a transição entre adolescência e estado adulto.

Ora, a verdade é que todas as sociedades as têm. E aparentemente apenas as sociedades contemporâneas ditas ocidentais têm vergonha de assumir este facto histórico e antropológico. 

Que eu saiba são também as únicas a transferirem a responsabilidade de organização destes ritos, dos adultos directamente para os alunos ainda adolescentes ! 

Ou seja, as Universidades e os professores mais esclarecidos entendem bem o problema e porque existe o problema, desde o factor psico- sociológico até ao factor etário e de género, mas está na cara que preferem descartar-se, atirando o odioso para as comissões mais ao menos fantoches de estudantes e as associações que os “representam” dentro do ensino superior, quando têm tempo para isso e no intervalo de reuniões mais ao menos partidárias, claro está…

Obviamente que nenhuma Universidade de Ciências Sociais fala sobre ritos de passagem, nada de o dizer abertamente. Náaa… 

Há uma sugestão breve e indolor, em algum dos muitos calhamaços que nos obrigam a ler, lá nesse antro de sofrimento espiritual chamado ensino “superior”.


Não só o ensino que lá se pratica não é de todo superior – aliás em termos pedagógicos é mesmo o pior de todos – como também as práticas bárbaras inqualificáveis de certos pré- recém- encartados alunos revelam toda uma inépcia de sensibilidade, uma anti- empatia, uma anomia natural, a todos os títulos assinalável – mas no mau sentido, de uma humanidade e inteligência de todo ausentes destes seres muitas vezes vestidos de negro – vestidos de negro para se colarem à tradição de Coimbra para obterem uma legitimidade que de facto não têm, não tiveram algum dia e por este caminho nunca terão.


Eu não sei bem o que vocês pensam de putos parvos – eu no meu caso pessoal nunca fui muito à bola com estas aves raras.


Prefiro seres depressivos a putos parvos. Esses, ao menos, têm algo dentro de si que a qualquer momento pode desabrochar e afirmar-se em algum contexto criativo.

Também não gosto de grupos, talvez por ter estudado o fenómeno do comportamento humano em pequenos grupos, salvo erro na cadeira de Psicologia social. Em termos de amizade (e já agora amor, apanhando boleia da tradição judaico- cristã), para mim três é uma multidão.


A introspecção, as pessoas tímidas têm muito valor.

Como dizia Alan Turing, “Por vezes são aqueles de quem ninguém espera nada que são capazes de fazer coisas que ninguém esperava serem possíveis”.

No caso de Turing, foram precisas muitas décadas de silêncio ensurdecedor para que a Rainha lhe “perdoasse” – sendo que o contrário seria bem mais verdadeiro, em termos históricos e humanos. Mas adiante, que atrás vem gente e o tipo até já morreu.

E lembro-me sempre da hoje clássica definição dos escuteiros: “Um grupo de putos vestidos de parvo, liderados por um parvo vestido de puto”.


Se alguém algum dia te disser que és parvo por seres tímido, não ligues.

Constrói a tua obra, vasta e única, no silêncio dos pequenos deuses.

Pois a História é o definitivo juiz.

E as Universidades estão cheias de parvos que se julgam mestres.


Infelizmente, e para mal dos nossos pecados.


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