"Talento" em Marketing
Aparentemente há por aí talento a rodos.
E há empregadores que procuram esse mesmo talento.
E que remuneram e valorizam esse talento:
“Procuramos modelos talentosas”
“Tens talento ? Queremos falar contigo !”
“Queremos designer talentosos, vem trabalhar connosco.”
Mas este tipo de talento passa-me ao lado – e ainda bem.
Porque…
Não sou especialmente bonito.
Tenho até uma muito respeitável barriguinha, o que me torna talvez e apenas
mais um típico português.
Não faço musculação em nenhum ginásio da moda.
Não estou nem out nem in nem a meio caminho de coisa alguma aparentada.
Mas, não duvidem: Talento significa que és bonito(a).
Nem mais, nem menos do que simplesmente isto.
Eu, por exemplo:
. Sou artista visual.
. Licenciado em Sociologia.
. Escritor.
. Webdesigner.
Quando uma empresa pede talento, na minha ingenuidade pensava em:
. Pintura de qualidade;
. Livros bem escritos;
. Artigos de ciências sociais revolucionários;
. ou websites com um design espantoso.
Mas não.
Nada disso.
Não é este o significado de talento para essas almas visionárias.
Não é isso, o que elas procuram, apesar de ser precisamente isso o que
anunciam aos quatro ventos.
Procuram, isso sim, meninas e meninos saídos das escolas de modelos que
pululam por aí, quais saltitantes e superficiais cogumelos.
Nem que seja para entrar directamente para a representação ou apresentação,
passando por cima de actrizes e actores a sério, em programas televisivos ocos
que precisam de caras bonitas como um pobre precisa de pão.
Portanto, a conclusão é esta: a definição de talento foi reformulada pelas
agências de marketing.
Onde se lia: habilidade artesanal, deve passar-se a ler: beleza exterior,
muito senso comum e desinibição QB.
E é por isso que eu, quando vejo um anúncio de emprego que peça talento,
fujo a sete pés !
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