Manifesto-me, logo existo




Aqui, em terras de Carcavelos city, muito está a acontecer, graças a uma “nova centralidade” made in Câmara de Cascais.

E, no entanto, existe um povo piqueno – perdão, uma piquena parte desse povo piqueno – que continua estoicamente a resistir.

Aproximando a lupa, e por entre os acampamentos de romanos… vejamos:


. Serão os cotas de 40 ou 50 anos, aburguesados e com um olho na cerveja e outro no jogo da bola na TV ?

. Serão os joves, que só querem surf durante o dia, parties à noite e paz d´alma ao fim de semana ?

. Será um comboio, o homem aranha, ou o super- homem ?


Nãaaaao ! São mesmo os Verdes, o PAN, a esquerda toda em batalhão contra tudo o que cheire a capitalismo selvagem, cidadãos bastante independentes e seus cães e gatos, em procissão, uma turba que fez seu o lema do inefável Judge Dredd – “Atirar primeiro e fazer perguntas depois !”.


. É hotel ? Ná, providência cautelar nisso.

. É restaurante ? Hmm… suspeito.. manda providência cautelar nisso.

. É supermercado ? Bom, na dúvida entra uma providência cautelar nessa estranha coisa.


É assim: na zona entre Carcavelos e- tudo- o- que- fica- a- caminho- do- Estoril, os patos bravos sabem agora que, se querem fazer alguma coisa que se veja, constroem silenciosamente antes e anunciam a quase pecaminosa intenção depois !!!

Para que, quando os manifestantes estiverem a caminho do Tribunal, já lá está a coisa de cimento e betão armado à frente dos seus atónitos olhos !!


Bom, mas eu não sou ingénuo, nestas coisas da construção civil e interesses adjacentes, políticos incluídos.

E portanto esta conversa da treta do bem- estar, da qualidade de vida, do desenvolvimento, do progresso é bastante tolinha e passa-me um bocado ao lado, felizmente (digo eu).

E, no entanto, existe aqui um pensamento e uma acção que se me afiguram totalmente contra- producentes e contraditórias.

Quer dizer, andaram todos os velhos do Restelo – neste caso, de Carcavelos e uns arredores bastante vastos – a pregar aos quatro ventos que nada se fazia nem nada se construía nesta zona, que éramos os coitadinhos da Câmara de Cascais, que todos os grandes projectos ficavam no Estoril e em Cascais, e depois, quando finalmente se fazem essas coisas, desde escolas a dormitórios de estudantes, passando por hotéis, restaurantes, hipermercados e até centros culturais, e se faz isto tudo ao mesmo tempo, “- Alto lá que nós aqui não pedimos isso !!! Não era bem isso, vocês entenderam mal !!”.


Digam-me lá, se souberem ou puderem:


- É melhor uma Faculdade de prestígio ou mato ?

- É melhor deixar degradar na totalidade a LeGrand que está fechada há anos e anos, ou construir lá – alguma coisa, que seja ?

- É melhor deixar ruir o histórico Ludance ou aí erguer um centro cultural ?

- É melhor aproveitar a zona balnear a nível de turismo organizado, ou deixar tudo ao amadorismo puro e ao deixa andar tipicamente tuga ?


Esta atitude negativa dir-se-ia infantil faz-me lembrar salvo erro um alpinista que, ao ser questionado porque é que sentia um irreprimível desejo de escalar uma enorme montanha, respondia: “- Porque ela está lá !”.

Também as árvoresinhas e os arbustos e as giestas e as ervas daninhas e os bichos do mato devem ficar onde estão “- Simplesmente porque estão lá !”… Ratazanas, cobras, lagartos, aranhiços - tudo incluído !!

E em relação ao sociológico (e também astrológico) assunto da representatividade destas manifestações em Carcavelos, custa a acreditar que toda uma população se reveja nestas ideias, e provavelmente a franja etária que mais defende esta atitude defensiva será aquela que já não assista directamente ao impacto destas novas construções na sua vida, no médio prazo.

Faz lembrar o brexit no Reino Unido: a população cujo futuro é mais breve decidiu o futuro dos mais jovens com mais largo futuro. Por eles. E estes, viram a banda passar sem ter voto na matéria !

E esta, hein…??


P.S.: Eu próprio tenho um simpático velhinho do Restelo dentro de mim. Todos temos um destes dentro de nós. Chamo-lhe Consciência, e ela normalmente não concorda nada com o que escrevo – incluindo este artigo. Ah, pois é – ninguém é perfeito, neste mundo apocalíptico pós- Freud…

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