Picasso, génio ausente




Gostei muito, mesmo muito da série sobre um outro génio: Einstein - talvez porque essa série se focou mais na obra e menos nas mundanidades deste cientista.


Esta série sobre um outro gigante, Esta, é diferente:

Há um rodopio interminável de personagens, cada qual com a sua quota de tempo de antena – mereçam ou não esse tempo de antena..

Kahnweiler, Apollinaire, Jacobs, Braque, Gertrude Stein, todas as muitas mulheres da vida de Picasso, empregados, motoristas, marchands, artistas adjacentes, que são meras personagens secundárias.

Ou seja, aquilo já vai no 8º episódio e o mestre a pintar ou a desenhar ou a esculpir, isso esta série foge como o Diabo da cruz..!

A verdadeira razão pela qual este ser humano mereceu uma série como esta, em nome próprio, como o artista plástico mais influente do século XX, disso nem traço nem rasto.


Perguntas aparentemente incómodas como estas:

. Por que é Picasso importante ? - Não se sabe.

. Por que é que a escultura, a pintura, a gravura e a olaria foram reinventadas por este artista ? - Mistério.

. O que é o Cubismo ? E como se distingue da regra da perspectiva ? – Venham outros explicar.

. Em que se baseia a amizade e concorrência salutar entre Matisse e Picasso ? – Leves pinceladas em um ou outro episódio.

. Como se estruturava a academia oficial de pintura e como o Impressionismo implodiu esse sistema ? – Nada, ou muito pouco.


Mas… há pontos positivos ?

Bem… sim, alguns: 

A estrutura narrativa, plena de flashbacks, parece apropriada; 

O actor que faz de jovem Picasso é bom, está a anos- luz do genuinamente incompetente Banderas, que meteu uma fatiota e alguém lhe deu aquele jeito ao cabelo e repete a mesma fórmula até à exaustão. Aquilo não é um actor a fazer de uma figura histórica; é antes um personagem que se diz actor a tentar imitar aquilo que ele pensa ser a figura histórica. Estudo dos trejeitos, alguma coisa; compreensão profunda da figura, zero de zero de um zero absolutamente total !


Talvez o grande problema resida nisto: eu, como artista plástico que sou, sei bastante da personagem Picasso, da sua vida e obra.

E talvez seja por essa razão pela qual eu tenha gostado da série de Einstein, exactamente por essa falta de conhecimento que quer e é efectivamente surpreendida a cada novo episódio.

Ora, isto já não resulta quando eu conheço bastante bem o artista – o que é o caso.


Curiosamente – e isto é um facto, não uma mera opinião – os actores do estado adulto dos retratados – o híper- valorizado Geofrey Rush em Einstein e o bon vivant Antonio Banderas como Picasso – são absolutos canastrões, sendo que actores muito mais novos e certamente menos experientes dão um bailinho da Madeira a estes figurões, na versão mais jovem dos dois génios.

Porque a arte de representação ainda é o que era – precisa portanto de bons actores.

Banderas é a ausência em pessoa – Picasso nunca está lá, a respirar no mesmo espaço.

E o verdadeiro artista revolucionário, o porquê de ele ter sido genial, é mais uma ausência de peso nesta série.


É o problema de se apostar na vida social para se explicar arte: o importante não são as aparências – é mesmo a Alma e a sua ESSÊNCIA…


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