O encanto do enfado
Bom, tenho de admitir que é verdade:
. Irritam-me notícias falsas no Facebook;
. Irritam-me posts que redefinem o que é a amizade e o que (não) são as pessoas;
. Irritam-me sites como o da segurança social;
. Irritam-me produtos biológicos de biologia variável;
. Irritam-me pessoas cínicas, racionalizantes e gastas, zangadas com o mundo e arredores;
. Irritam-me pessoas demasiado irritáveis;
Mas irritam-me muito mais os e as artistas que têm real talento e que, para
provocar ainda mais atracção, mostram a perna laroca, as pernas larocas, o
busto laroco, o sorriso maroto e as curvas avantajadas, sem freio nem excepção,
à vez e mais um par de botas.
Pois é, meus amigos, pois é: a lista é infelizmente longa, muuuito longa.
Preparem-se, que isto não vai ser bonito de se ver.
Falemos então de:
. Shania Twain;
. Beyoncé;
. Mariah Carey;
. Avril Lavigne;
. Ariana Grande;
. Rihanna;
. Selena Gomez;
. Shakira;
. Katy Perry;
. Miley Cyrus;
. Jennifer Lopez;
. Taylor Swift.
Ok, e vou parar por aqui – mas a lista continua e continua e continua…
Isto funciona maravilhosamente bem na música rock e pop, pois a sua base de
promoção é o videoclip, popularizado inicialmente pela MTV, como todos sabemos.
Rajadas visuais de sensualidade de 3 minutos funcionam muito, mas mesmo
muito bem, e ajudam a vender qualquer coisa - neste caso chamem-lhe música..
Tenho ainda outra coisa a confessar:
O fado é território que eu pensava estar livre desta praga.
Habituei-me a respeitar o low profile de artistas como Carlos do Carmo, que
é o meu fadista preferido, ou mesmo de Camané ou Mariza.
Ou cantores únicos como Jacques Brel, ou Frank Sinatra, ou Billie Holiday,
ou o bardo da escuridão Tom Waits.
O meu modo de entender a música é este: primeiro eu procuro… música ! Será
pedir muito, que a música exista, que esteja efectivamente lá ?!?
Esta é uma praga que mistura o marketing mais antigo do mundo com os
instintos mais básicos de um público que se quer fiel e comprador, muuuito
comprador.
E, aqui, há dois exemplos que me irritam sobremaneira:
. Cuca Roseta, com os seus meneios lânguidos que musicalmente são fogo fátuo,
e não levam a lado nenhum;
E, sobretudo, Gisela João, cujos ângulos de aproximação às suas pernas
larocas parecem não ter fim, em infindáveis campanhas fotográficas da mais alta
estirpe, que não envergonhariam qualquer modelo profissional digna desse nome.
Visitem o Instagram, se querem conhecer legiões de caras larocas de todas
as nacionalidades com menos de 20 anos, menos de 30 publicações e mais de
10.000 seguidores, cada uma.
Hoje em dia basta um único vídeo, como ficou provado com Justin Bieber –
quanto mais aparentar ser caseiro, melhor, e já agora com a ajuda do Youtube,
para conseguir fenómenos virais ao virar da esquina, que são bem melhores que
cãezinhos ou gatinhos a fazerem parvoíces, e já está ! Mais uma star is born !
Não é, Barack Obama…?
Sorry – wrong movie !
Há, no entanto, misturas que não se devem fazer:
Jazz e pernas larocas ao léu;
Blues e caras lindas aos molhos;
E, falando na tugalândia, sem dúvida que o aproveitamento do corpinho em
vídeos que promovem música estilo fado não é de todo uma win- win situation,
como diriam os nossos muito amigos americanos.
Tenho portanto um conselho a dar a talentos musicais emergentes nesta área:
Bastem-se com a melodia e a voz.
Cantem e encantem.
Misturem apenas a vossa emoção com a guitarra e a voz.
É que o corpo curvilíneo, a cara bonita, os olhos doces, a pernoca
malandra, são encantos de outras lides.
Quem vos avisa…
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