"Construir o nome" de um artista
Afirmam as galerias de arte - e aos quatro ventos o fazem -
que são elas que “impõem” o nome do artista no mercado de arte.
Será esta afirmação verdadeira, ou apenas uma falácia que se
auto- cumpre ?
Vejamos:
– Apesar de serem apenas intermediários, os galeristas decidem
praticamente tudo neste negócio, ou seja, impõem ou destroem a “dignidade
visível” de determinados artistas, assim se decidindo o seu futuro no mercado
(depois chamem-lhe sorte…);
– As percentagens que levam sobre o produto final são clara
e abusivamente elevadas, para os serviços que efectivamente (não) prestam aos
artistas (“se queres um catálogo em condições fá-lo tu!”);
– Os preços atribuídos às obras de arte são encontrados
segundo uma pseudo- ciência intitulada “olhómetro”, provavelmente de acordo com
as dimensões, materiais, e raramente têm que ver com a temática/ conteúdo das
mesmas, sendo exagerados quando… o artista “já tem nome”! Notoriedade social é
tudo, qualidade da obra nem sequer entra na equação;
– Raramente as galerias apostam em novos artistas, têm uma
estrutura muito pesada e arriscam pouco ou nada;
– A ligação das galerias aos marchands e às críticas favoráveis ou
desfavoráveis em jornais de referência por parte dos críticos de arte da nossa
praça são já matéria de mitos urbanos e aparentam origens misteriosas;
– Elaborar uma “biografia” de influências intelectuais,
temas mais recorrentes na obra do artista, etc etc etc são considerados elementos
supérfluos: o passado não interessa, é preciso que a arte seja fast- food: ou é
vendável no momento ou até logo e passe bem!
Ora digam-me lá se isto é “fazer um nome”!
É imperioso desmistificar todas estas ideias feitas que
poluem a liberdade criativa dos artistas.
Os críticos, os marchands e as galerias, de facto,
tornaram-se o centro das atenções, ao invés do real papel que têm de elo de
ligação artista- público: exorbitam as suas funções, impondo o negócio puro e
duro do mundo da arte em vez de colocarem o foco no artista e sua arte. Tanto
assim é que a comunidade dos artistas a sério até já duvida da real valia de um
artista que seja lançado nos meios de comunicação, pois decerto há interesses económicos
para que isso suceda.
Ou seja, apenas existe aquilo que elas expõem e apenas tem
valor aquilo que os galeristas querem inflacionar no mercado.
Não será esta a forma suprema de falsidade intelectual dos
dias de hoje, ainda mais do que a poluição visual da publicidade nas grandes
cidades?
Se o trabalho dos galeristas e críticos é assim tão
profissional, onde estavam eles quando Van Gogh se suicidou? E onde
estavam quando Gauguin morreu, completamente esquecido pela civilização
ocidental? E onde estavam quando Modigliani destruiu a sua saúde?
Não me venham agora dizer que isso já lá vai, que são águas
passadas, que são apenas exemplos históricos: nada disso!
Poderiam existir hoje 100 Van Goghs, ou 200, ou 1000, que os
críticos e as galerias não o iriam promover se não tivessem a certeza do LUCRO,
essa praga que continuará a afectar as relações artista- público.
Não são questões menores, pois até Tàpies - um artista com A
grande e um nó na garganta para muitos críticos de arte bem pensantes - refere
esta situação e muitas outras, como por exemplo a cândida posição da arte
conceptual, num mundo que “a compra e vende como batatas”.
Entre a arte e comércio não se pode ter sequer o “pecado” da
hesitação.
Porque razão a arte geométrica abstracta e a pop art e a fotografia e a arte conceptual são tão queridas pelas
galerias, em detrimento de uma arte mais expressiva e humana? As pessoas costumam
dizer: eu também fazia isto! E as pessoas têm razão, na maioria dos casos, pois
não é possível tapar o sol com a peneira da pseudo- intelectualidade das
galerias.
Penso que todos conhecemos exemplos gritantes de falta de
qualidade, quer de obras quer de artistas que “exibem” a sua mediocridade em
pretensas “galerias de superior categoria”, e que pertencem a essa(s)
galeria(s) por razões que fariam corar o diabo: o problema não está em eles
existirem, mas sim em não denunciarmos esses factos que tanto contribuem para o
marasmo da vida artística nacional.
Comentários
Quando diz "Ou seja, apenas existe aquilo que elas expõem e apenas tem valor aquilo que os galeristas querem inflacionar no mercado."
Reconhece que está nos galeristas a projecção do artista quer tenha ou não valor.
Logo, não me parece de todo lógico o texto que apresenta .
Transforma uma crítica num reconhecimento do trabalho das galerias.
Partir desse pensamento errado para uma falta de lógica do texto é ainda mais incompreensível.
Insisto na falta de lógica do artigo porque, pondo em causa a promoção do artista por parte das galerias, acaba por expor a realidade em que o artista por si só, não consegue impor a sua existência. Terei compreendido bem ? Se não compreendi assumo 50 % do erro. Os outros 50 % terão que ser de sua pertença.E acrescento eu, o artista ou candidato a artista, outra palavra a carecer de definição para boa interpretação do texto,terá que ter algum pecúlio financeiro que permita a aproximação aos circuitos de distribuição. O facto de ter o nome ou a família socialmente bem posicionados também ajuda.
Quanto ao artigo, acho muito pertinente e confesso que sinto uma brisa de alívio por vêr alguém a publicar um artigo sobre esta temática. Mais vozes se deveriam ouvir, já que parece haver um medo geral em expressar publicamente opiniões genuinamente pessoais no que diz respeito a este assunto... Obrigada Francisco